Talvez você não saiba, mas o melhor gerente do seu próximo negócio é esse chefe chato que o incomoda exigindo relatórios e desconfia de todos os acordos comerciais que você, diligentemente, fecha em nome da empresa.

Até que você, sem perceber nesse seu chefe, gerente ou dono da empresa, seu potencial gerente, demite seu patrão, faz as próprias contas e decide seguir carreira solo. O dinheiro é pouco, mas dá para encarar a nova etapa e você marca a data para abrir a empresa. A liberdade, como define uma amiga e leitora de Barueri, está no horizonte.

Sem patrão, sem chefia, sem ninguém para mandar no seu relógio, o empreendedor (ou empreendedora) se sente pronto para se despedir dos ex-colegas de trabalho, negociar a demissão para raspar tudo o que pode dos seus direitos trabalhistas, acertar o contrato de aluguel da nova empresa e fazer valer seu CNPJ, novinho em folha.

E quebra a cara.

Pois terá que, por dois longos anos, no mínimo, financiar seus próprios erros gerenciais, assumir os prejuízos de suas parcerias mal feitas, suportar a sangria dos custos mal calculados que, inocentemente, repassou para seus clientes julgando que teria algum lucro.

Aliás, nem sabe o que é exatamente esse tal de lucro pois ainda administra sua empresa como se fosse uma conta salário. Gasta o que tem no bolso e recebe aleatoriamente de seus ainda raros clientes e quando as contas do mês se esticam muito além do que tem em mãos, recorre às reservas e ao cheque especial.

Essa combinação, sempre instável, entre as reservas financeiras pessoal, da família e dos amigos mais chegados (que acabam, família e amigos, sendo envolvidos), mais os pinga-pinga que chegam da clientela e o vazamento constante da caixa preta emergencial que  o obriga a cobrir buracos para se manter operante definem, muitas vezes, sela o destino da empresa que é obrigada, caso não aprenda a se corrigir, a fechar as portas apesar do talento, garra e criatividade de seu proprietário ou proprietária.

A saída, onde está a saída?

A saída, minha cara, meu caro, está lá no início dessa história. Mesmo o profissional mais habilitado precisa confirmar, de maneira consciente, o aprendizado gerencial dos seus próprios negócios.

Uma das alternativas mais baratas e práticas é transformar o seu atual emprego (ou a vaga que você conseguirá no seu setor de atuação futura) numa espécie de MBA (Master of Business Administration).

Apesar da tradução para o português significar “Mestrado em Administração de Empresas”, no Brasil se trata de uma especialização, sem titulação acadêmica de Mestre.

Portanto, ao se decidir encarar a vida por conta própria defina, primeiro, qual será o seu setor de atuação. Caso ele coincida com o seu atual setor econômico, tire umas férias, leia alguns livros a respeito do assunto e volte para a empresa com as baterias recarregadas para agir como uma aluna (ou aluno) aplicada.

Aprenda a perceber a cadeia produtiva do seu setor e ver de fora e de cima todas as operações, ordens, decisões, relacionamento com os clientes, fornecedores etc como uma aula prática de seu MBA.

A desconfiança do seu chefe em relação aos negócios recém-fechados servirá de alerta para que você aprenda a reavaliar em profundidade as nuances dos acordos concluídos e, principalmente, as planilhas de custos sugeridas.

As pequenas maldades que as chefias e colegas adotam uns contra os outros servirão de exemplos práticos para você medir, ali, in loco, ao vivo e a cores, as emoções que viram pequenos carcinomas na motivação da equipe e que muitas vezes ocasionam uma anemia generalizada na organização.

A tensão gerencial dos líderes da empresa, sim, elas e eles existem, senão a empresa não teria como pagar seu parco salário, deve se tornar uma fonte de inspiração para esse seu MBA prático.

Fique atento e tente descobrir o que motiva os líderes a identificar e mudar, repentinamente, os rumos da empresa, a cancelar contratos que você ainda via como lucrativos ou a negociar com a equipe para que se esmere para entregar os pedidos com excelência e a curto prazo para determinados clientes.

Assimile, também, o bom senso dos que comandam a empresa e abandonam a emoção da conta salário e adotam uma rígida distinção entre o que é conta da empresa, custos fixos, contas a receber, salários e lucros.

Se der, e tiver sorte, tente se relacionar com o departamento financeiro da empresa e assimilar as regras básicas da contabilidade comercial que funcionam há mais de três mil anos, desde que os fenícios inventaram a escrita contábil.

Reflexão absoluta

Ao se dedicar ao seu próprio MBA o faça com absoluta entrega. Sem deixar jamais de refletir a respeito de tudo que acontece ao seu redor. Nada, mas nada mesmo dentro do processo organizativo lhe deve escapar e ser tratado como algo corriqueiro.

Se esforce e complemente sua atuação prática e consciente com informações que conseguir pesquisar em livros e na internet, com conversas com especialistas, com a participação ativa e atenta a seminários.

Lembre-se: você é ao mesmo tempo orientador, mestre e aluno. E terá data certa, geralmente um ano ou dois, para conferir a você mesmo o seu diploma.

Agora, a prática

Aproveite o seu MBA que foi financiado por salários baixos e pelos muitos sapos que teve que aprender a engolir sem perder a consciência da situação; sustentado por sua capacidade de sobreviver atento a um ambiente hostil, às vezes, mas que gerou uma bagagem gerencial sem precedentes, e marque, agora sim, com mais segurança, uma data para cair na vida empreendedora.

Sem medo de ser feliz, sabendo que mesmo com todo o preparo, mesmo tendo consciência das alternativas aos erros que você viu serem cometidos na organização e que o ajudaram a atingir esse novo estágio de consciência empresarial, que mesmo assim, você vai ter que gerenciar e superar seus próprios erros e prejuízos se quiser manter sua empresa aberta para muito além dos dois anos iniciais.
Escrito por Marco Roza
Publicado em 04/07/2012
Fonte: Site Economia Uol

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