"Toyota dilapidou sua marca", diz consultor

26/02 - 07:00 - Gustavo Poloni, iG São Paulo
Com a mão direita erguida na altura da cabeça, o presidente mundial da Toyota, Akio Toyoda, comprometeu-se a falar a verdade durante sabatina no Congresso norte-americano. Em pauta, a crise enfrentada pela maior montadora do mundo, acusada de esconder dados sobre defeitos em seus carros, enganar autoridades para evitar prejuízos e que anunciou no início do ano o recall de 8,5 milhões de veículos. Ao final de horas de esclarecimentos e muitos pedidos de desculpas, uma pergunta permanecia sem resposta: até que ponto a maior crise dos quase 70 anos de história da Toyota pode afetar a sua marca? “Empresas que enfrentaram problemas parecidos morreram”, disse ao iG Renata Lima, diretora associada da Troiano Consultoria de Marca. “É o caso da Enron”.

Ainda é cedo para dizer se a Toyota seguirá o caminho da companhia de energia, eleita seis vezes a mais inovadora dos Estados Unidos e que fechou as portas em 2001 por causa de fraudes contábeis. Uma coisa é certa: o episódio vai deixar cicatrizes na montadora japonesa. Nos Estados Unidos, as vendas caíram 16% em janeiro em relação ao mês anterior. As histórias de carros que aceleram sozinhos ou que demoram frações de segundos para frear também chegaram ao mercado financeiro. Na quinta-feira, dia 25, o valor de mercado da Toyota era de US$ 115 bilhões – queda de 30% em relação a janeiro de 2008. “Por causa da forte concorrência, a Toyota abriu mão da qualidade e da segurança e dilapidou sua marca”, afirmou José Roberto Martins, da consultoria de marcas GlobalBrands.
A reação do mercado tem uma explicação: a forma atrapalhada como a Toyota conduziu a crise. As primeiras notícias de problemas com aceleradores dos veículos da montadora japonesa surgiram em 2004. Durante investigação do departamento de transporte norte-americano, a Toyota alegou que os problemas não tinham fundamento e o caso foi encerrado. Cinco anos depois, a fabricante respondia por 33% das reclamações sobre aceleradores de carros nos Estados Unidos. Recentemente, descobriu-se que a empresa fez de tudo para limitar um recall e, assim, evitou prejuízo de US$ 100 milhões. “Num primeiro momento, a Toyota omitiu o problema e depois tentou empurrá-lo com a barriga”, disse Martins. “Quando algo assim acontece é preciso dar a cara para bater”.
Corrigir, custe o que custar
Não existe receita para lidar com uma crise como a enfrentada pela Toyota, mas algumas medidas ajudam a empresa a recuperar o prestígio da sua marca. Em primeiro lugar, é preciso identificar e reconhecer rapidamente a existência de um problema. Mais importante, a empresa tem de se esforçar para corrigi-lo custe o que custar. Alguns anos atrás, alguns pneus defeituosos da Firestone foram apontados como a causa por trás de acidentes envolvendo jipes Explorer, da Ford. Ao todo, 13 milhões de unidades de pneus foram trocados ao custo de US$ 750 milhões. “Só depois disso é que a empresa vai se preocupar com o reposicionamento da marca, treinamento de equipe e veiculação de anúncios para anunciar as mudanças”, afirmou Martins.
A crise da Toyota pegou de surpresa muitos analistas do setor. Criada em 1937 por Kiichiro Toyoda, a montadora começou a ganhar destaque mundial na década de 1980 com a produção de carros pequenos e econômicos. Durante muitos anos, a montadora figurou nos rankings de qualidade e seu modelo de produção era considerado tão perfeito que outras empresas faziam de tudo para copiá-lo. Seus carros sempre foram sinônimos de qualidade e segurança. A recompensa para o trabalho veio em 2006, quando a Toyota superou a General Motors e tornou-se a maior montadora do mundo. Hoje, acredita-se que a empresa cresceu rápido demais. Em meados de 2009, quando assumiu o cargo, o presidente da montadora reconheceu que a montadora acabou se distanciado do seu foco principal: o cliente.
O resultado dessa guinada é catastrófico. O problema no acelerador já causou a morte de cinco pessoas e deixou outras 17 feridas nos Estados Unidos. Nos últimos dias, relatos de momentos de desespero por causa de carros que aceleraram sozinhos até 160 km/h ganharam os meios de comunicação. Durante um evento, o cofundador da Apple, Steve Wozniak, dono de um Prius, contou que sentiu o problema na pele. “Foi assustador”, disse. O acelerador não é o único problema detectado no modelo. O carro, que ficou popular por ser ambientalmente correto, tem também um defeito no software do freio. “A notícia das agruras da Toyota é uma quebra de paradigma”, disse Renata. “Quando você mexe com valores e pilares da marca ela fica mais vulnerável”. Só o tempo vai dizer se a montadora vai se recuperar dos problemas e sair da crise.
Procurada, a Toyota não respondeu a pedidos de entrevista.
http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2010/02/26/a+toyota+dilapidou+sua+marca+diz+consultor+9409417.html

5 Comments:

  1. comentario said...
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    comentario said...
    Isso e para ver que nenhuma empresa nem mesmo as maiores do mundo podem se descuidar com a qualidade e muito menos ignorar erros que podem levar vidas.
    Evaldo Inatomi Mecatronica 1D
    Unknown said...
    Hoje, nenhuma das empresas, industrias, não podem deixar a qualidade de lado, mesmo que essa "qualidade" tenha um custo alto. Tenha que contratar mais empregados, investimentos de alto custo e maiores quantidades de teste. Pois nenhum dinheiro pode "pagar" o nome de uma empresa, pagar a sua histórias de conquistas e glória. Quando acontece um fato como esse, a tendência da empresa é ser prejudicada em todos os seus ramos, desde as suas camionetes (em relação a Toyota), como os seus carros de passeio. As pessoas perdem a confiança em seus serviços e em seus produtos. Assim consequentemente param de comprar e utilizar eles. Um caso interessante foi o recall do Stilo da FIAT. Que fez muitas pessoas comprarem outros carros da mesma categoria invés de adquirir o Stilo.


    Thomas Erick Lisboa Martins
    MEC 091c
    FAVATO said...
    Isso é um descaso com a vida de muitas pessoas, qe ainda hoje correm perigo com essa bomba relógio qe ocorre com a empresa fornecedora desses carros! Isso deve ser revisto e resolvido urgentemente.
    Giovane Favato, MECATRÔNICA 091D
    sim said...
    Com o crescimento muito rápido da empresa alguns valores foram deixados de lado para que os lucros se multiplicassem, mas, isso acabou acarretando neste imenso prejuízo não só financeiro como também da depreciação que a marca esta sofrendo
    nestes últimos tempos o caso ganha maiores dimensões pelo fato de ter sido escondido durante anos para evitar um prejuízo a fabrica sem pensar nas vidas que estavam em perigo.


    Luis Henrique MECATRÔNICA 09/1D

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